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Não foi o parto dos sonhos

Postado em 15/07/2015 por em Gravidez, Parto | Comente!

Como a Ju anunciou, nesta semana, decidimos compartilhar um momento muito especial nas nossas vidas. Ela já o fez na segunda ( leiam aqui) e agora é a minha vez.

Já aviso que este post é longo, assim como foi meu trabalho de parto. Então senta que lá vem história. Para ficar menos cansativo, dividi o meu relato de parto em duas partes. A primeira vocês acompanham logo abaixo. O final eu conto num próximo post.

Desde sempre, eu queria ter parto normal. Na minha família, todo mundo tinha tido parto normal e pra mim era literalmente o mais natural. Confesso até que sempre tive mais medo da cesárea, por todo procedimento cirúrgico que envolvia.

Crédito: Eduardo Beltrame

Crédito: Eduardo Beltrame

Para que meu desejo se concretizasse, me informei, me preparei e me cerquei de profissionais que me davam segurança. Por indicação da Magda, que já esteve presente na nossa coluna #VisitadeMãe, e do Felipe, seu marido que trabalha comigo, fizemos um curso de gestantes no Grupo Hanami e tivemos acesso a diversas informações sobre preparação para o parto, amamentação e o cuidado com o bebê. Acabamos contratando o serviço de acompanhamento de parto hospitalar com as meninas que são doulas e enfermeiras obstétricas.

Por recomendação também da Magda e do Felipe, fui atrás do Dr. Fernando Pupin, conhecido pelo trabalho de parto humanizado, já que a primeira obstetra que eu fui me dava a impressão que ia me levar a fazer uma cesárea desnecessária. E eu realmente queria um médico em que eu confiasse plenamente e que só partiria pra um procedimento cirúrgico em último caso. Dr. Fernando ganhou minha confiança na primeira consulta e fiquei segura de que estava em boas mãos – e acima de tudo, segura de sua lealdade e de seu respeito ao meu desejo de ter um parto normal.

Tive um pré-natal sem problemas (aliás, tive uma gravidez super tranquila, sem nenhum enjoo ou mal-estar) e lembro que meu único receio era de não entrar em trabalho de parto. Mas aí, conversando com o Dr. Fernando, eu me tranquilizava com a possibilidade de induzir o trabalho de parto se fosse necessário e não partir direto para a cesárea. Eu lembro de perguntar pro meu obstetra se eu ia perceber que estava em trabalho de parto e ele, com seu jeito engraçado de ser (quem o conhece, sabe) me disse: não se preocupe, você vai perceber. E realmente, não tem como não perceber (rs).

Eu tive duas gestações ao mesmo tempo: a do meu filho e a da minha dissertação. Assim que pari a dissertação, com 36 semanas de gestação, fiquei mais tranquila. Corri pra adiantar o trabalho acadêmico o quanto pude, mas tinha receio de o Gabriel querer vir antes da hora. Depois que minha dissertação nasceu, fiquei aliviada e dizia para o Gabriel que ele já podia vir. Comecei até a caminhar todo dia para estimular a sua vinda.

Eu na minha banca de mestrado com 36 semanas de gestação | Crédito: Arquivo Pessoal

Eu na minha banca de mestrado com 36 semanas de gestação | Crédito: Arquivo Pessoal

Eu defendi a dissertação numa terça-feira. Uma semana depois já estava entregando a versão final com ajustes pós-banca para conseguir encerrar esse ciclo de vez e não ficar com pendências para depois do nascimento do meu filho (queria estar 100% focada nele). Isso foi uma quarta-feira e eu ainda estava dirigindo pra lá e pra cá. Gabriel nasceu na segunda-feira seguinte, com 38 semanas e cinco dias.

Ele começou a dar as caras no domingo. Sábado à noite, eu e meu marido saímos pra jantar, curtindo nosso momento a dois e já prevendo que ia demorar para fazermos isso de novo. Na manhã de domingo, percebi um sangramento. Nunca tinha tido nada a gravidez inteira, então fiquei preocupada. Falamos com o Dr. Fernando que estava de plantão e fomos até a maternidade. Ele fez o exame de toque e disse que o sangramento era porque eu já estava com dilatação – estava então com 3 cm. Fora o sangramento, eu só estava sentindo uma leve cólica. Meu médico disse que eu provavelmente entraria em trabalho de parto naquela madrugada. Eu e meu marido preferimos não contar pra ninguém – só iríamos avisar nossos pais quando estivéssemos na maternidade.

Tivemos um dia normal. O Dr. Fernando me mandou mensagem no início da noite perguntando como eu estava e eu disse que estava bem. Continuava com o sangramento, mas sem dor, sem contração alguma. Fui deitar. Foi a última vez que dormi sem ter alguém com quem me preocupar e que dependeria tanto de mim por um bom tempo.

Era meia-noite quando senti a primeira contração. As contrações continuaram, mas espaçadas – tanto que consegui dormir até umas 4h30. A partir daí a dor foi ficando mais intensa e as contrações mais ritmadas e eu não consegui mais dormir. Resolvi ir para o chuveiro para amenizar a dor e me certificar de que estava mesmo entrando em trabalho de parto. Fiquei quase uma hora embaixo do chuveiro com meu marido contando as contrações comigo.

Tive uma gravidez super tranquila | Crédito: Eduardo Beltrame

Tive uma gravidez super tranquila | Crédito: Eduardo Beltrame

De manhã cedo, chamamos a Letícia, enfermeira do Hanami, que chegou em casa lá pelas 9h. Quando a Lê chegou na minha casa de manhã, ela me perguntou como eu estava e eu só consegui responder na hora: “Com dor!”. Se eu pudesse voltar no tempo, eu falaria: “Com dor, mas feliz por ter entrado em trabalho de parto!”. Afinal, eu estava tendo o privilégio de sentir meu filho chegando. Ele tinha escolhido a sua hora e eu podia senti-lo e ajudá-lo a entrar nesse mundo (percepções que só temos depois de ter passado pelo processo).

A Lê me examinou e viu que eu já estava com uns 6 cm de dilatação, mas como as contrações ainda não estavam bem ritmadas, ela indicou que eu caminhasse. Então fomos eu, meu marido e ela caminhar pelo meu condomínio. Nunca subi e desci tantos degraus antes. De tempo em tempo, a Lê escutava o batimento cardíaco do Gabriel para ver como ele estava. Durante as contrações, ela e o Eduardo também se revezavam pra fazer uma massagem nas minhas costas me dando mais alívio.

(Algumas pessoas me perguntam como é a dor, se é tipo uma cólica menstrual. Não sei explicar, mas é muito – MUITO – mais forte e paralisante. Na hora da contração, eu não conseguia me mexer de tanta dor. Eu lembro de pensar isso na hora e por isso até descrevo assim pra vocês, mas confesso que hoje só lembro que senti essa dor, que era intensa, mas nem lembro mais como era. Mas é uma dor suportável, logicamente, porque vem em intervalos, então dá de respirar e relaxar entre uma contração e outra)

A Lê ficou em contato com o Dr. Fernando e fomos para a maternidade lá pelo meio-dia. Cheguei na maternidade e o Dr. Fernando fez outro exame de toque e disse que eu já estava com 7 cm de dilatação. Fiquei feliz da vida, achando que ia ser rápido, afinal, os 10 cm estavam logo ali. Doce ilusão! Mal previa eu que o trabalho de parto iria até de noite.

Eu estava tento o privilégio de sentir meu filho chegando. Ele tinha escolhido a sua hora e eu podia senti-lo e ajudá-lo a entrar nesse mundo.

A única sala de parto da maternidade estava livre pra minha sorte, apesar que não fez tanta diferença. Continuei caminhando pelo hospital para tentar ritmar as contrações. Lembro de olhar o relógio na sala de parto e desejar que o tempo passasse rápido para aquela dor passar e eu poder ter logo meu filho nos braços. Isso era umas 15h. Gabriel só nasceria umas 7h depois.

Caminhei bastante e fiquei naquela bola de pilates. Uma hora resolvi ir pro chuveiro pra aliviar a dor, mas aí as contrações perderam o ritmo e achamos melhor eu sair. Por isso, também não arrisquei entrar na banheira, para tentar agilizar o trabalho, já que a água não estava ajudando nesse ponto.

Meu filho estava chegando e eu tive o privilégio de sentir tudo isso | Crédito: Eduardo Beltrame

Meu filho estava chegando e eu tive o privilégio de sentir tudo isso | Crédito: Eduardo Beltrame

O tempo foi passando e nada do negócio evoluir. Em um determinado momento, comecei a ficar nervosa e com medo do que estava por vir e acabei chorando um pouco (até então, estava me controlando bem e não havia derramado nenhuma lágrima). O Dr. Fernando entrou na sala e viu que eu tinha chorado. Lembro que assim que ele entrou, eu já falei: “Me descontrolei um pouco, mas já me recompus”. Ele, todo atencioso, apoiou a sua cabeça na cama para ficar na mesma altura em que eu estava e me pediu pra lhe contar tudo o que eu estava sentindo (por essas e outras que eu sou muito fã dele).

Eu estava começando a ficar cansada. Acho que eram umas 20h quando o Dr. Fernando veio me examinar e disse que o trabalho não estava andando. Ele me sugeriu tomar ocitocina para acelerar o processo. Como eu tinha lido que quem tomava ocitocina tinha uma dor muito mais forte, falei pra ele que tinha receio disso. Então ele me deu outra opção: estourar a minha bolsa que ainda não tinha rompido, pois isso naturalmente poderia contribuir para a saída do bebê. Topei!

(Outro parênteses: durante todo o processo, o Dr. Fernando me consultou sobre tudo. Lembro que, nessa hora de falar da bolsa, ele me pediu pra sentar porque precisava conversar comigo e tínhamos que decidir juntos. Isso pra mim é parto humanizado! ;))

Até então, a dor era forte, mas estava suportável. Ela ia e vinha num intervalo de cerca de dois minutos, mas eu estava aguentando. Lembro de ter pensado: “Nossa, se a dor do parto for essa, nem dói tanto assim como dizem”. Doce ilusão nº 2!

Assim que o Dr. Fernando rompeu a minha bolsa, a dor ficou muito mais intensa. Não aguentei muito tempo e pedi analgesia. Eu não tinha opinião formada sobre isso. Ia tentar ter um parto natural, mas se não aguentasse eu pediria analgesia. E foi o que eu fiz. Hoje eu penso que poderia ter tentado sem, mas na hora isso me parecia impossível. Não temos noção da dor que aguentamos e do nosso limite até sentir na pele.

Para tomar a analgesia, tive que ir para outra sala e isso foi bem ruim. Me colocaram em uma cadeira de rodas e nem meu marido nem a Lê puderam me acompanhar. Felizmente, Dr. Fernando estava lá para me apoiar.

Na hora eu achei que não tinha feito nenhuma diferença tomar a analgesia – porque continuava sentindo as contrações-, mas foi justamente porque eles aplicaram uma dose fraca para que eu não perdesse essa sensibilidade. Eu conseguia sentir a contração, mas não sentia mais onde tinha que fazer força.

Tê-lo nos braços foi a melhor sensação do mundo | Crédito: Arquivo Pessoal

Tê-lo nos braços foi a melhor sensação do mundo | Crédito: Arquivo Pessoal

Diante do meu cansaço e por eu não estar conseguindo fazer a força no lugar correto, o Dr. Fernando sugeriu usar o vácuo-extrator para puxar o Gabriel. Eu nem titubeei e disse para usar. Eu estava exausta e queria muito que o Gabriel saísse logo.

O Dr. Fernando acoplou o vácuo-extrator na cabeça do Gabriel e disse para eu fazer força quando viesse a contração que ele ia puxar junto. E assim foi. Gabriel nasceu às 22h11 e veio direto para o meu colo. Que alívio! Que felicidade! É realmente a melhor sensação do mundo.

No próximo post eu conto sobre o que aconteceu na sequência e que fez com que o meu parto não fosse como eu sonhava.

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