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Uma reflexão sobre a forma de nascer

Postado em 13/08/2016 por em Gravidez, Parto | 2 comentários

13615250_1049571138446305_1428813396480905467_nPermitam-me usar este espaço para um post diferente do que normalmente fazemos. Hoje participei do CineDebate, um evento promovido pela obstetra Karoline Soares do instagram @blognovemeses. Assistimos ao filme O Renascimento do Parto e depois teve um bate-papo com obstetras, uma doula, uma pediatra e uma fisioterapeuta que responderam dúvidas relacionadas ao parto e aos cuidados com o bebê. Foi muito bacana!

Há tempos que eu queria assistir a esse documentário, lançado em 2013, mas nunca tinha conseguido ver na TV e nem ir a eventos em que ele era exibido. Agora deu certo. E digo uma coisa: não tem como sair indiferente após assistir ao filme.

Parto humanizado independe do lugar e dos profissionais, é uma questão de respeito ao momento e, principalmente, à mãe e ao bebê.

O documentário apresenta histórias de mães que não tiveram sua escolha respeitada, que acabaram fazendo cesáreas desnecessárias e também de quem superou e conseguiu um parto normal depois. Traz várias entrevistas com especialistas falando desta cultura da cesárea que vivemos no nosso País e de como esse procedimento não é o melhor para mãe bebê – lógico, salvo as exceções em que a cirurgia é recomendada e salva vidas.

Queria destacar alguns pontos mencionados no filme sobre a realidade brasileira e que me chamaram a atenção:

– O número de internações em UTIs neonatais aumenta em véspera de feriado justamente por causa do aumento de cesárias por conveniência médica;

– Parto normal é incompatível com a agenda de muitos obstetras que preferem fazer uma cesárea com hora marcada;

– O médico obstetra também vive uma situação difícil ao tentar lutar contra um sistema já imposto e onde o parto normal não é valorizado. Tem plano de saúde que chega a pagar R$ 180,00 por um parto normal, ou seja, vale mais uma tarde de consultas do que horas acompanhando um único parto. Muitos médicos que gostariam de fazer um parto humanizado se perdem ao longo do
tempo, pois se cansam de lutar contra o sistema;

– A maioria das mulheres engravida e quer parto normal. Ao longo da gestação é que isso vai mudando, muitas vezes por médicos que vão minando seu desejo inicial e apresentando indicações não verdadeiras que a fragilizam e a deixam com medo;

– O pretexto campeão de indicação de cesárea é o mito do cordão assassino, quando mais de 40% dos bebês nascem com a circular no pescoço;

– Na maioria dos casos em que se fala que a mulher não teve dilatação, não houve respeito fisiológico.

o-renascimento-do-parto-capaA intenção do filme foi chocar e até com um certo viés de defesa ao parto normal, é claro. Tanto que as imagens de parto normais são mais bonitas e recentes do que as de cesárea. O filme também demonstra um cenário de parto domiciliar muito bacana para quem se sente segura ao fazer esta escolha, mas traz números de outros países – já que, segundo as obstetras que participaram do debate , no Brasil ainda não há estudos representativos sobre o parto domiciliar e o nosso País ainda não possui uma estrutura que, na opinião delas, ofereça segurança para esse tipo de parto caso ele apresente complicações.

Minha intenção com este post não é gerar polêmica e nem entrar naquele debate de parto normal X cesárea. Já escrevi aqui um post sobre o que eu acredito e acho que tem que ser: uma escolha consciente. Mas eu queria dividir com vocês esta experiência e dizer para que assistam ao documentário como fonte de informação para quem ainda terá filho, para as grávidas e até para quem já teve filho. Nossa escolha tem que ser feita com base em informação. Achei muito legal ver uma sala de cinema praticamente lotada com mulheres e muitos homens buscando esse conhecimento.

Fiquei muito feliz ao ver que tive de fato um parto normal humanizado – como já contei aqui -, mesmo não tendo sido exatamente como eu planejei. Ao mesmo tempo, fiquei triste por ver mulheres que sofreram violência obstétrica e imaginar que isso ocorre diariamente. Me entristece também perceber como amigas foram levadas a fazer cesáreas sem necessidade – e talvez nem tenham essa consciência.

Ao final, a grande mensagem que fica é que o parto quem faz é a mulher e é uma escolha dela. O melhor lugar para ter seu bebê é onde você se sente segura – e talvez por isso crescem os casos de quem prefere um parto domiciliar planejado com uma equipe experiente e competente para isso.

Parto humanizado independe do lugar e dos profissionais, é uma questão de respeito ao momento e, principalmente, à mãe e ao bebê. É possível ter uma cesárea humanizada. É possível ter um parto humanizado sem doula. Lógico, para quem tem condições e estrutura disponível, é sempre melhor poder pagar por um obstetra de confiança, pela assistência de uma doula, por um local que ofereça uma estrutura mais propícia para isso – ou ainda por uma equipe de atendimento domiciliar para quem preferir. Mas, se você não puder ter isso, isso não representa uma sentença de que seu parto não será como você deseja. Agora por isso mesmo cabe à gestante se informar e se preparar para este momento – e se o seu parceiro e sua família te apoiarem, melhor ainda.

Cinema praticamente lotado para o evento. | Crédito: Ezequiel Medeiros

Cinema praticamente lotado para o evento. | Crédito: Ezequiel Medeiros

Aliás, fiquei surpresa ao ver a quantidade de homens presentes no evento de hoje – seja apenas para fazer companhia para suas parceiras ou querendo se informar também para poder participar desta decisão e desse momento com mais propriedade. Ter um parceiro junto nesta hora faz muita diferença! Outra coisa muito legal foi ver na plateia muita gente da área da saúde – residentes, enfermeiras, doulas, psicólogas, etc -, o que demonstra que os profissionais também estão buscando uma formação mais humanizada, apesar do preconceito que existe entre eles mesmo, como relataram as obstetras no debate (a ponto de serem consideradas alternativas e “hipongas” por alguns colegas por defenderem a bandeira de parto humanizado e fazerem, por exemplo, parto na água).

Então, se eu pudesse dar um conselho, eu diria para todas as mulheres – que desejam ter filho, que já tiveram, que querem ter mais um, que estão grávidas – para assistirem ao documentário. No mínimo, fará com que você reflita e pense sobre como você se sente melhor e quais escolhas você quer fazer para esse momento da vida. E eu espero que, independentemente da sua escolha, seja uma experiência boa e feliz. Ao final, o que importa é ter o bebê saudável no colo e uma mãe também bem para poder dar conta do que está por vir. <3

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2 Comments

  1. Adorei ter participado do evento tb e parabéns pelo ótimo texto.

    • Obrigada, Sheila! Foi muito bom te encontrar por lá! Tomara que consigamos ter mais um parto normal no segundo filho. 😉

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