Menu+

Visita de mãe: Persistir, insistir, não desistir

Postado em 13/05/2015 por em Amamentação | Comente!

Estamos muito felizes de publicar o primeiro texto da coluna Visita de Mãe. Nossa proposta é compartilhar relatos de outras mães que podem sempre ajudar quem está passando ou já passou por uma situação semelhante. O texto de hoje é da Magda, jornalista e mãe da Ana Laura – hoje com um ano e quatro meses -, que fala sobre persistir na amamentação. Venha ler que lindo depoimento!

 

Persistir, insistir, não desistir | Por Magda Pamplona

 

Existem pessoas altas e baixas, magrinhas e gordinhas, loiras e morenas, certo? As pessoas são únicas, carregam características próprias de seus pais e suas mães, não são como objetos fabricados em série. Então parece óbvio que sejam diferentes. Mas por que, para muita gente, quando se trata de bebês eles têm que ser iguais? Dormir o mesmo número de horas, andar e falar mais ou menos na mesma idade, mamar em intervalos similares e… ter o mesmo peso?

 

magda_naosaogemeos

Hoje a Ana Laura tem 1 ano e 4 meses e ainda mama no peito | Crédito: Eduardo Beltrame

Vivemos numa sociedade em que, para a maioria, bebê saudável é bebê gordinho, cheio de dobrinhas. Se o bebê não está gordinho, então está mal alimentado. Se mama só no peito, bingo!, está aí o motivo do peso abaixo da média.

 
Minha filha demorou 15 dias para recuperar o peso de quando nasceu. Nada fora da normalidade. Mas no início da minha jornada como mãe o peso da minha filha me custou muito tempo de preocupação desnecessária. Aos 14 dias de vida já tínhamos trocado de pediatra. O primeiro médico que consultamos falou em complemento aos 6. Aos 13 prescreveu, porque minha filha não ganhava as 30 gramas diárias que deveria ganhar para se manter no peso médio dos bebês de mês de vida. Ela chegou a ganhar 22 gramas diárias entre o sétimo e o décimo terceiro dia, mas não as 30.

 
Minha filha não é um robô, programada para ganhar um número exato de gramas diárias. Ela não estava e nunca esteve desnutrida. Eu não seria irreponsável de deixar chegar a esse ponto. Aliás, sempre esteve dentro do limite considerado aceitável, conforme dados da caderneta de saúde da criança, do Ministério da Saúde. E sempre apresentou todos os sinais de desenvolvimento considerados normais para a idade dela.

 
Hoje falo isso com tranquilidade. Mas, em pleno puerpério, ouvir do pediatra que eu precisava complementar porque talvez eu não tivesse leite suficiente foi um balde de água fria. Chorei muito, não acreditava que, disposta a amamentar exclusivamente por seis meses, teria que complementar. Entrei na farmácia, olhei o preço da lata de complemento, peguei na mão e devolvi na prateleria. Eu precisava de uma segunda opinião. Liguei para a enfermeira que me acompanhou no parto e pós-parto e ela me indicou o médico que é pediatra da minha filha até hoje. No dia seguinte ele nos atendeu e disse que ela estava saudável e que eu poderia continuar com a amamentação exclusiva. Naquele primeiro mês, ainda voltamos outras duas vezes ao consultório para acompanhar o peso. E ela chegou a um ganho de 25 gramas diárias no período.

 
O fato é que mesmo sabendo que ela estava bem, que a pega dela era correta, como a enfermeira já tinha constatado nas visitas do pós-parto, o peso continuava sendo uma assombração. Ela sempre esteve abaixo do peso médio para um bebê da idade dela. Foi e é até hoje um bebê sem dobrinhas. Pra ajudar, nunca tive excesso de leite. Minha concha coletora sempre ficou vazia e meus protetores de seio sempre secos. Se não fosse o apoio do meu marido em bancar, junto comigo, a amamentação exclusiva até os seis meses, com certeza não teria conseguido, pois a cobrança da sociedade é grande.

 
Ouvi muitos comentários diretos e indiretos sobre o peso da minha filha e tentava não demonstrar irritação, pois acho que, na maioria das vezes, as pessoas não fazem por mal, mas por desinformação. Infelizmente estão contaminadas com a cultura do bebê gordinho e do complemento salvador. Em diversas ocasiões, quando ela chorava, sugeriam que podia ser fome. Afinal ela só mamava no peito e várias pessoas contavam histórias de experiências pessoais nas quais o bebê parou de chorar e passou a dormir a noite toda quando começou a tomar complemento. Claro, uma mamadeira de complemento para um bebê é como uma feijoada para um adulto, pesa no estômago. Se o leite materno é digerido com mais rapidez, é lógico que o bebê vai chorar de fome num intervalo menor do que se tomasse complemento.

 
Certo dia, quando minha filha tinha pouco mais de 2 meses, um desses comentários abalou-me fortemente. Talvez eu estivesse sensível demais, cansada demais, pela nova rotina e também pelas cobranças e palpites, não sei, o fato foi que fiquei muito mal. “Será que é assim que as pessoas veem minha filha, como uma criança mal alimentada? Será que estou prejudicando o desenvolvimento dela?”, pensei. Chorei mais um monte, mas resolvi procurar ajuda de uma enfermeira consultora em amamentação. Era minha última cartada, afinal entende tudo do assunto – ia confirmar se eu tinha mesmo leite suficiente, etc.

 

Ouvi muitos comentários diretos e indiretos sobre o peso da minha filha e tentava não demonstrar irritação, pois acho que, na maioria das vezes, as pessoas não fazem por mal, mas por desinformação. Infelizmente estão contaminadas com a cultura do bebê gordinho e do complemento salvador.

 

Chamá-la foi a melhor coisa que eu poderia ter feito. Ela conversou comigo sobre livre demanda, ensinou amamentar em posições diferentes daquela tradicional com o bebê no colo (amamentar deitada, por exemplo, contribuiu muito para o meu descanso) e confirmou o que eu já sabia, mas teimava em duvidar, a pega da minha filha era perfeita e eu tinha leite suficiente para ela.

 
Se guardo mágoa da pessoa que fez esse comentário que me deixou muito mal? Não. De forma alguma. Foi por causa dela que busquei a ajuda da enfermeira e coloquei uma pedra em cima dos meus medos com relação ao ganho de peso da minha filha. Nesse momento me emponderei com relação a amamentação e nada mais me abalou. Me orgulho muito de ter amamentado exclusivamente até os seis meses. Voltei a trabalhar quando minha filha tinha 9 meses. Por um mês deixei 150mls de leite ordenhado para complementar o lanche da tarde.

 
Não julgo quem não amamenta por opção ou por falta de incentivo. Mas eu queria muito amamentar. E o que uma mulher que quer amamentar precisa é basicamente apoio. De médicos, sim, mas especialmente do companheiro, que precisa ajudar a bancar a decisão perante as cobranças que acabamos sofrendo num momento de fragilidade emocional.

 
Lamento que haja pediatras que não defendam com unhas e dentes a amamentação, prescrevendo complemento na primeira grama a menos que o bebê ganha ou na primeira dificuldade que a mulher encontra para amamentar. Mais do que qualquer outro profissional médico, os pediatras deveriam ser os primeiros a defenderem a amamentação.

 
E se guardo mágoa do pediatra que prescreveu complemento? Só um pouco. Porque, no fundo, no fundo, a situação que vivenciei me ajudou a confirmar o que eu já vinha percebendo desde quando passei pesquisar sobre tipos de parto durante a gravidez: que devemos questionar os médicos e não aceitar absolutamente tudo o que dizem como se fosse uma verdade única.

 
Hoje minha filha tem 1 ano e 4 meses e ainda mama no peito. Continua pesando um pouco abaixo da média, mas dentro do considerado saudável para a idade dela. Com relação à altura, ela está 4,5cm acima da média para a idade. Também, com uma mãe de 1,70m e um pai de 1,88m ela não podia ter uma estatura baixa! E viva as diferenças!

Tags: , , , , , ,

0 Comments

Trackbacks/Pingbacks

  1. Visita de mãe: Pais educam e avós… educam também! | Não são gêmeos - […] nossa coluna #VisitadeMãe com um texto lindo sobre persistir na amamentação (se ainda não leu, veja aqui). Agora ela…
  2. A ordenha nossa de cada dia | Não são gêmeos - […] quantidade maior no mesmo tempo (como foi o caso da Magda, que comentou sobre isso em um dos seus…
  3. Amamentação: não foi amor à primeira vista | Não são gêmeos - […] A Ju já escreveu um post sobre isso e a Magda, na nossa coluna #VisitadeMãe, também deu um relato…

Comente!

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *