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Visita de Mãe: Relato de relactação e amamentação

Postado em 05/07/2016 por em Amamentação | 4 comentários

Nossa convidada de hoje faz sua estreia no nosso blog e espero que seja a primeira visita de muitas. Se amamentar já é difícil, imaginem parar de amamentar e conseguir fazer relactação? Pois foi isso que a Ju conseguiu e colhe os frutos até hoje. A Ju é casada com o Guilherme e mãe da Paula de um ano. Advogada, é natural de Florianópolis e mora em Curitiba. Vamos deixar ela contar então como foi este processo. Obrigada, Ju, por escolher o nosso blog para compartilhar essa história inspiradora de superação. Parabéns pra vocês!

 

Relato de relactação e amamentação | Por Juliana Horn Machado Philippi

Minha filha nasceu prematura, de 35 semanas, num parto natural super rápido (2h30min de trabalho de parto!). Apesar da prematuridade, não precisou ir para a UTI, pois nasceu com 2,5kg e apgar 9-10.

Ela nasceu numa quinta-feira de manhã, mas meu leite somente desceu na madrugada de sábado para domingo. Ainda estava internada, pois o pediatra queria acompanhar uma possível icterícia, mas graças a Deus fomos embora para casa no final da manhã da segunda-feira.

Crédito da foto: Pequena Joana

Crédito da foto: Pequena Joana

O começo da amamentação foi bem difícil, pois minha filha não sabia sugar direito e tive mastite duas vezes. Além disso, até os 50 dias de vida, o pediatra dela era o plantonista que nos atendeu no nascimento e que volta e meia vinha com aquela história de que “se não engordar x gramas por dia, vai ter que entrar com complemento”.

Eu tinha muito leite, vivia com os seios pingando, razão pela qual tinha que usar sempre uma toalha dentro do sutiã (o absorvente para seios não adiantava nada). Mas, apesar do cansaço das mamadas intermináveis (ela ficava cerca de 1h mamando!) e com curtos intervalos (e, consequentemente, poucas horas de sono), estava feliz porque acreditava que a amamentação estava indo bem.

No entanto, com 50 dias, comecei a sentir dores horríveis para amamentar no seio direito, e após alguns dias vi que saiu uma “espinha” muito dolorida no bico. Pesquisei na internet e vi que poderia ser um ducto entupido. Lembrei que a Marcela, autora aqui do blog, havia feito um post relatando quando teve ducto entupido e entrei em contato com ela, que me disse ter furado a “espinha” no mamilo com uma agulha e para drenar. Além disso, conversei com um mãe integrante de um grupo que participo no whatsapp, que é super entendida de amamentação, e ela me disse para fazer muita massagem na mama e que, se quisesse, poderia sim furar com uma agulha estéril.

Como fiquei com medo de furar a “espinha” do mamilo em casa, dirigi-me ao pronto socorro de uma maternidade aqui em Curitiba. Fui atendida por uma residente, que demorou a entender o que estava acontecendo e não quis fazer o furo sob o argumento de que poderia acontecer alguma infecção. Receitou antibiótico e anti-inflamatório. E só!

Mas eu estava com muita dor e sabia que deveria drenar o leite que estava naquele duto! Então, ao parar na farmácia para comprar a medicação indicada pela plantonista, resolvi comprar seringas de insulina, para usar a agulha estéril para furar a “espinha”. E foi o que fiz assim que cheguei em casa: furei a tal da espinha e o leite jorrou longe na mesma hora! Na sequência coloquei minha filha para mamar e drenar todo aquele leite.

No entanto, o furo e a medicação não adiantaram muito, pois havia mais de um ducto entupido, e no dia seguinte chamei uma consultora de amamentação na minha casa. Ela me ajudou a desentupir os outros ductos e, para isso, teve que praticamente esfolar o mamilo. Foi muita, muita, muita dor! Mas resolveu, pelo menos naquele dia. No entanto, ela me passou tantas tarefas (teria que tirar o leite com bomba a cada 2h para não empedrar e fazer compressa na sequência… isso tudo cuidando sozinha de um bebê de 50 dias, pois moramos longe da família e não temos funcionária do lar e nem babá) que fiquei muito atordoada e apavorada.

No dia seguinte à visita da consultora de amamentação, ainda sentia muita dor (era o quinto dia seguido de dor extrema). Estava exausta, quase surtando (hoje em dia acho que estava à beira de uma depressão pós-parto). Então resolvi, de ímpeto: “Não quero mais amamentar, cansei!”. Era uma terça-feira de manhã, liguei para o meu obstetra (sempre muito atencioso) e consegui uma consulta para o mesmo dia. Cheguei lá determinada e disse: “Doutor, quero um remédio para secar o leite, não aguento mais!”. E ele, vendo o meu desespero e que já estava decidida, receitou a medicação.

pequena joana fotografia de família

Crédito da foto: Pequena Joana

Meu marido, sempre muito parceiro, foi comigo nessa consulta e tratou de verificar com parentes qual leite deveríamos dar para a nossa pequena, mesmo triste com a minha decisão. Na sequência, resolvi mudar o pediatra da nossa filha, pois não concordava com várias coisas do antigo profissional. Então, na quarta-feira, dia seguinte da medicação para secar o leite, fomos à primeira consulta com o atual pediatra da Paula (que adoro e super recomendo), que escutou toda a situação e a examinou com muito cuidado. Verificou que ela tinha uma contratura (encurtamento) em um dos lados do pescoço, e era por isso que ela não conseguia mamar direito na mama direita, o que certamente causou as mastites e o duto entupido. Inclusive, constatou que a cabecinha dela estava ficando torta por causa desse encurtamento. E, como defensor da amamentação, o pediatra lamentou a minha decisão de tomar medicação para secar o leite.

Nos dias seguintes minha filha chorava muito por falta do peito e isso me cortava o coração. Além disso, via meu marido muito triste, pois ele era o maior entusiasta do aleitamento materno. E foi então que, na sexta-feira da mesma semana, dia 04 de setembro, resolvi verificar se poderia voltar a amamentar, até porque ainda tinha leite. E tanto o obstetra quanto o pediatra foram uníssonos ao dizer que sim, eu poderia voltar a amamentar, ainda que a bula da medicação que eu havia tomado dissesse o contrário. O pediatra disse que os benefícios do aleitamento eram infinitamente maiores do que os riscos que o medicamento oferecia.

Assim, no sábado de manhã, feliz da vida, ofereci o peito para a minha filha e ela mamou como se não houvesse amanhã! Foi lindo de ver! Contudo, nesse momento ela mamou o restinho de leite que ainda existia na mama. E, por força daquele remédio que havia tomado na terça-feira (dose única), na sequência vi o leite sumir. Aí entrei em desespero: “e agora? O que faço?”

Comecei a pesquisar, por conta própria, sobre relactação. Os poucos textos que encontrei falavam no uso de sonda para amamentar e da necessidade de estimular a mama mediante a sucção do bebê. Mas quando descobri isso era sábado (5 de setembro de 2015) à noite e, para ajudar na segunda-feira era feriado nacional (7 de setembro) e na terça-feira, feriado municipal em Curitiba (8 de setembro). Mesmo assim, adquiri sondas pela internet e meu marido saiu de manhã cedo no dia 9 de setembro para comprar outra sonda, da Medela, aqui em Curitiba.

Desde o sábado (5 de setembro), resolvi deixar minha filha sugar à vontade, ainda que não saísse leite, para estimular a produção. Deixava-a sugar uns 15 minutos em cada lado (e ela sugava mesmo, pois sentia muita falta do peito), diversas vezes por dia, e depois dava uma mamadeira para que ela não passasse fome. E ela sugava tão bem que resolvi nem usar as sondas que havia adquirido, até porque seria mais uma função (ter que esterilizar tudo toda vez que fosse usar) para aquela mãe esgotada física e psicologicamente.

Aos poucos, graças à cooperação da minha querida filha, que sugou e estimulou bastante, a produção de leite começou a voltar! Ficava muito, mas muito feliz toda vez que via que saía alguma coisa! E o marido, entusiasta da amamentação, também vibrava com a nossa vitória.

Com o retorno da produção de leite, aos poucos fui reduzindo as mamadeiras com leite artificial, que por um tempo foram dadas apenas como complemento, principalmente, no final da tarde, quando a produção diminuía um pouco. Além disso, em algumas ocasiões minha produção baixava muito, principalmente, em épocas de muito stress, e tive que recorrer à mamadeira com fórmula para não deixar minha filha passar fome. E ainda, em paralelo, fazia exercícios diariamente na minha filha para a contratura, que em poucos meses conseguimos resolver e inclusive a cabecinha dela ficou perfeita, com formato lindo!

pequena joana fotografia de família

Crédito da foto: Pequena Joana

Devo destacar que, principalmente nesse começo de relactação, cada dia de aleitamento era uma vitória. Não tinha muita fé de que conseguiria amamentar por muito tempo. Até cheguei a comentar com a Marcela sobre a nossa história, mas disse que queria esperar mais um pouco para escrever a respeito, pelo menos até me sentir segura de que a amamentação havia sido estabilizada.

Pois bem, foi assim, um dia de cada vez e com muitas dificuldades (tive ductos entupidos por outras cinci vezes, mas aí já sabia como lidar e resolver a situação sozinha). Hoje posso dizer, com muito orgulho, que atingimos um ano de amamentação! É muita felicidade!

Tudo é aprendizado. Não digo que me arrependo de ter tomado a medicação para secar o leite, até porque era a única saída que eu via naquele momento de desespero. Mas certamente todas essas dificuldades serviram para valorizar ainda mais esses momentos tão lindos que tenho com a minha filha. Espero que esses 12 meses de amamentação sejam apenas os primeiros de muitos outros que ainda virão.

Quero registrar, ainda, que tive muita sorte por a minha filha não ter feito confusão de bicos, mesmo mamando peito e mamadeira. Com certeza, o fato de ter aprendido a fazer a pega certinha foi fundamental para o sucesso de todo esse processo de relactação. E o fato de não usar chupeta certamente colaborou, pois eu era a chupeta dela e talvez seja por isso que ela sugava tanto, ainda que não saísse nada de leite no começo da relactação.

Agradeço também ao meu marido Guilherme, sempre muito companheiro, amoroso e compreensivo, que foi fundamental para a relactação. Se não fosse o incentivo dele, certamente nada disso teria acontecido.

Com todas essas minhas dificuldades, aprendi a não julgar as mães que não conseguiram ou não quiseram amamentar seus filhos. Cada uma sabe o que se passa no íntimo de seus lares e o puerpério e os primeiros meses da maternidade são extremamente desafiadores e transformadores. Só quem passa sabe compreender do que estou falando. Com certeza, todas as mães sentem imenso amor por seus filhos, independentemente da amamentação com leite materno ou mamadeira com leite artificial.

 


– Visita de Mãe: Veja aqui todos os textos já publicados da nossa coluna em que outras mães compartilham suas experiências. Quer participar também? Entre em contato com a gente

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4 Comments

  1. Meu bebê tem 3m 6d e também sofro com a amamentação pela falta de produção do meu leite. Tirando na bombinha sai 1/3 do q ele toma como suplemento na dedeira. Tudo que me falam para ajudar está estimulação eu faço, inclusive remédio prescrito pela pediatra que tem como efeito colateral a produção do leite. Nada parece funcionar mas continuo dando esse pouquinho ao meu baby. Penso que mesmo sendo pouco passo os benefícios tão ricos da amamentação a ele e mantenho a esperança de um dia começar a jorrar leite. 🙂 Afinal a esperança é a única que morre não é mesmo!?
    Obrigada pelo relato, me ajudou a reforçar o desejo.

    • Oi Marina!
      Isso mesmo, continue estimulando sua produção, deixando o bebê mamar e sugar bastante. Deixa ele “fazer o peito de chupeta” mesmo, porque a sucção estimula a produção de leite.
      Só consegui relactar porque minha filha tinha muuuiiita necessidade de sugar, e acredito que também por não usar chupeta.
      Mas mesmo assim tive que complementar com leite artificial até a introdução alimentar. Na verdade, quando ela tinha quase 5 meses o pediatra disse que não precisava mais dar complemento para ela, mas quando eu via que ela “secava” as duas mamas e continuava com fome, dava complemento sim (não ia deixar minha filha com fome, né?).
      Mas depois da introdução alimentar já não foi mais necessário complementar após as mamadas.
      Siga firme e forte, todo sacrifício valerá a pena! E mesmo que seja pouquinho, o que seu filho mama de leite materno já ajuda. 🙂

  2. Que história linda, Juliana! Obrigada por dividi-la conosco! Tenho certeza de que ajudará muitas mães que passam por essas dificuldades da amamentação.
    E viva a corrente do bem!

    • Obrigada Talita! Espero que meu relato ajude outras mães na mesma situação 😉

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