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Visita de Pai: Aprendizados de um pai

Postado em 14/08/2016 por em Sem categoria | Comente!

Neste Dia dos Pais, entre tantos textos lindos de homenagens, me emocionei com o que meu amigo de trabalho, Felipe Silva, publicou no seu perfil do Facebook. Gostei tanto que pedi para ele nos deixar postar aqui no blog para que mais pessoas pudessem ler. O Felipe é pai da Ana Laura de 2 anos e 7 meses e casado com a Magda que já escreveu alguns textos para a nossa coluna Visita de Mãe. Conheço os dois da faculdade, já que nós três fizemos, em turmas diferentes, o curso de Jornalismo na UFSC. Como a Ana Laura nasceu antes do Gabriel, o Felipe e a Magda me deram várias dicas e, até mesmo pelo exemplo deles como pais, aprendi muito. Ao pedir autorização para compartilhar o seu texto, o Felipe me disse: “Que honra!”. Eu que digo, Felipe: Que honra poder fazer uma coluna de Visita de Pai e poder publicar um texto lindo como esse por aqui. Você representa toda uma nova geração de pais que pega junto e participa efetivamente da criação dos filhos como deve ser. Parabéns pra ti e um Feliz Dia dos Pais pra todos vocês!

Aprendizados de um pai | Por Felipe Silva

 

A vida nunca mais foi a mesma desde 15 de junho de 2013, quando, por volta das 18h, recebi uma ligação da Magda me informando:

– Tô grávida!

Eu estava trabalhando num evento no Câmpus São José do IFSC. Lembro que fiquei andando pra um lado e pra outro pelos corredores do câmpus sem saber direito o que fazer durante alguns minutos, pensando em como seria ser pai. Embora a Ana fosse um bebê desejado já há algum tempo, o fato é que a gente não tem noção sobre como é ser pai ou mãe antes de se tornar um. Não existe fórmula pronta, nem filho vem com manual de instrução.

De qualquer maneira, diante do desconhecido, eu e a Magda buscamos o máximo de informação possível sobre criar uma criança. Primeiro foi sobre gestação e parto, depois vieram amamentação, sono, alimentação e hoje estamos na fase da educação e das brincadeiras. Já gastei (ganhei, na verdade) algumas noites e madrugadas lendo reportagens e artigos científicos para entender melhor o mundo para o qual entrei.

Essa busca por informações e a vivência do dia-a-dia me fizeram aprender muitas coisas e a mudar bastante. Definitivamente não sou a mesma pessoa que era até as 18h de 15 de junho de 2013.

Aprendi, por exemplo, que estar presente é muito mais importante que dar presente. Minha filha não se importa se sou rico ou pobre, famoso ou desconhecido, se as pessoas me consideram incompetente ou um baita profissional: ela quer saber apenas de ter o pai ao seu lado. Ela troca fácil e sem pensar muito o brinquedo que acabou de ganhar por uma brincadeira qualquer com o papai ou com a mamãe. No entanto, aprendi também que uma criança não precisa de adulto, televisão ou joguinho eletrônico para brincar ou mesmo lhe dizendo como brincar. Basta uma historia, alguns personagens, às vezes um pedaço de papel ou de madeira, e a imaginação dela voa.

Crédito: Arquivo pessoal

Crédito: Arquivo pessoal

Para ser presentes, precisamos fazer escolhas. Aprendi que o discurso de que “não importa a quantidade de tempo, mas a qualidade” pode ser reconfortante para nós, adultos, que temos vidas cada vez mais atribuladas, mas não condiz com as necessidades da criança. Para ser um pai o mais presente possível, coloquei minha filha como prioridade diante de minha carreira e mesmo de alguns sonhos e desejos e isso não é um favor ou concessão que faço a ela – afinal, fui eu que escolhi ser pai.

Aprendi que criança não gosta de comer besteira, mas sim é acostumada desde cedo a comer besteira – e não vai comer besteira se tiver acesso a alimentos saudáveis desde cedo. Que criança não é birrenta, nem manipuladora(!!!), mas sim que cabe aos adultos ouvi-la e entender o que ela quer expressar. Que não adianta castigo ou palmada e que é possível, sim, conversar e explicar a uma criança o porquê das coisas. Ela quase sempre entende.

Aprendi que não existe brinquedo ou brincadeira de menino ou de menina: existe brinquedo e brincadeira de criança. Que é preferível explicar os perigos de alguma brincadeira e os cuidados que ela deve ter a apenas dizer “não” e enchê-la de medos. Descobri que o “trabalho” de criança é brincar e, brincando, ela descobre o mundo.

Aprendi que cada “por quê?” (e são muitos!) é uma oportunidade para ampliar não só o conhecimento dela sobre o mundo, mas o meu também. Não sei tudo sobre tudo, embora ela ache que sim (“tu sabes tudo, né, papai?”), mas a cada vez que ela me faz aquela curta e desafiante pergunta sobre temas os mais diversos e surpreendentes, vejo uma chance de, junto com ela, estudar, pesquisar e entender mais sobre tudo que nos cerca.

Aprendi que, por mais que a gente se esforce, vai errar, mas não deve ficar se martirizando por isso. Vai ter dia em que vai ralhar com o filho quando não precisava, que vai falar ou fazer algo que não devia e não vai saber explicar – “pai, por que tu matasse o cupim? Tu dissesse que matar é errado…” -, que não vai estar presente como queria. É da vida. Perfeição a gente busca, mas não existe. E, se a gente pode errar com filho, pode errar em outros momentos da vida também (no trabalho, nos estudos, com um amigo, na pelada de quinta-feira, etc.) sem precisar se sentir o pior do mundo com isso.

Aprendi que a gente deve cuidar com o que faz e diz, pois os filhos, quando ainda pequenos, nos observam e nos imitam, afinal, para eles, nós somos o exemplo e nunca estamos errados. Li certa vez em “Cem anos de solidão”, do genial Gabriel García Márquez, a seguinte frase, dita por Ursula Iguarán, personagem que é a matriarca da família que protagoniza o livro: “Os filhos herdam as loucuras dos pais”. Eu li essa frase há 16 anos e hoje sei que: é isso mesmo, Gabo.

Aprendi que não devo viver a vida da minha filha. Por mais que tenha a obrigação de orientá-la e tomar decisões por ela nos primeiros anos, a vida é dela e não minha. Ela vai ser o que quiser ser. Também aprendi que é melhor para ela não ser criada como uma princesa do papai, uma frágil boneca de cristal, mas sim como uma pessoa que um dia será uma mulher e que vai precisar ser forte e madura para enfrentar algumas batalhas que ela terá que lutar por conta própria, embora sempre terá o pai e a mãe dispostos a lhe servir de apoio.

Outra coisa que aprendi sendo pai foi a entender melhor os meus pais e a valorizar ainda mais o esforço deles em me dar o melhor que puderam. Fica muito mais fácil colocar-se no lugar deles, entender as dificuldades que tiveram e compreender porque agiam como agiram ou ainda agem como agem. Nossos pais dizem “quando tu tiveres filho, vais entender!” – e, acreditem, é a mais pura verdade.

Aprendi que existe coisa mais bonita do que as deslumbrantes paisagens que já vi em viagens e em fotos. Pois podem procurar no mundo inteiro que jamais vão encontrar algo tão bonito quanto minha filha de rabo-de-cavalo!

Aprendi, ainda, a amar alguém de uma maneira e com uma intensidade que jamais imaginei. Descobri que os pais fazemos de tudo pelos filhos sem esperar absolutamente nada em troca e sabemos que o amor que sentimos por eles jamais será igual ao que eles sentem por nós – eles só vão sentir o mesmo pelos seus filhos. Aprendi que a saudade de um filho quando estamos fora dói demais – é cortante e dura feito diamante, como diria Zé Ramalho. E olha que nunca fiquei mais que seis dias fora de casa…

Por fim, aprendi a encontrar a felicidade plena em pequenas coisas. Não sei nem dizer o quão feliz fiquei no dia em que senti o pezinho dela “chutando” a barriga da mamãe, ou quando a peguei na banheira no dia do parto, ou quando li uma avaliação positiva dela feita pela professora, ou quando joguei futebol com ela pela primeira vez ou, ainda, quando ela diz “eu amo o papai”, mesmo sem, talvez, ter noção exata do que significa amar.

É claro que festas, viagens, vitórias do nosso time de futebol, etc., nos deixam felizes, mas não sei para onde teria que viajar ou qual título meu time teria que ganhar para me deixar mais feliz que nas situações em que busco a Ana na escola, ela me olha, abre um sorriso, vem correndo na minha direção – às vezes, falando “papaieeeeeeeeeê!” – e me abraça. Todos os problemas do mundo acabam naquele instante. E isso acontece quase todos os dias. Não é maravilhoso?

Neste Dia dos Pais, o meu quarto (contando a gravidez), agradeço minha filha por tudo que me ensinou até agora.

Um feliz Dia dos Pais a todos.

 

 

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