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Tem gente que não devia ter filho

Postado em 20/11/2015 por em Comportamento | 2 comentários

Outro dia, em uma bate-papo com umas amigas, essa constatação acabou sendo feita por nós: tem gente que não devia ter filhos. Dissemos isso num papo furado ao brincar sobre pessoas complicadas e difíceis de conviver por inúmeras razões, na nossa humilde percepção, que não deveriam colocar no mundo outro ser indefeso que teria o risco de se transformar em alguém como seus pais.

Fiquei pensando depois em quão egoísta (e até cruel) eu tinha sido por participar dessa constatação e em como isso era condenável de ser dito. Em primeiro lugar, quem sou eu para julgar que sou uma pessoa melhor do que outra para criar uma criança? Depois, mesmo aquela pessoa, que nesse julgamento condenável não parece ser apta para se tornar mãe/pai, tem a chance de se tornar alguém melhor pelo filho. E isso por si só já é algo lindo de se pensar e algo bom a se desejar.

Sim, porque ao ter um filho acredito que é natural que queiramos nos tornar pessoas melhores como comentei em outro post. O melhor é relativo, é claro, uma vez que as pessoas possuem convicções e ideais diferentes e cada um acredita que isso é o melhor pra si e para sua família. Mas eu realmente não entendo como alguém pode continuar agindo de maneira rude, grosseira ou suja com o outro ainda mais depois de ter filhos. Síndrome de Pollyana de novo, eu sei, mas é que eu sempre penso quando algo do tipo acontece: “Será que fulano não percebe que poderia ser seu pai ou seu filho a receber esse tratamento? Será que fulano não percebe que é dessa forma que ele está mostrando para seu filho que as coisas são? Será que fulano quer mesmo que seu filho cresça em um mundo de pessoas que agem assim?”

Quando não conseguimos engravidar ou conhecemos pessoas que estão tendo ou tiveram dificuldades nesse sentido, podemos pensar: por que até fulana engravida e eu não? Por que até ciclana que já tem cinco filhos e nenhum tostão no bolso engravida de novo e eu não? Sim, confesso que no fundo da minha alma eu já pensei isso por mim e por outras pessoas que seguem em busca da maternidade. Mas racionalmente pensando acho que o fato de alguém não conseguir engravidar não pode ser equilibrado com o fato de outra pessoa conseguir. Ninguém está tirando o lugar de ninguém, até porque o que não falta no mundo é lugar para quem quer ser pai ou mãe (seja de maneira biológica ou por adoção).

Bom seria se todo mundo que desejasse pudesse ter filhos, porque ser pai e mãe é maravilhoso. | Crédito: Arquivo Pessoal

Bom seria se todo mundo que desejasse pudesse ter filhos, porque ser pai e mãe é maravilhoso. | Crédito: Arquivo Pessoal

E acho que todo mundo deveria poder passar por isso se essa é a sua vontade. Mesmo uma gravidez indesejada acaba por gerar uma transformação na pessoa, ainda que não tivesse sido sua vontade no início.

Sim, tem gente que não quer ter filhos e acho que é um direito também e uma vontade que deve ser respeitada. Mas para quem quer ou para quem acaba acontecendo “acidentalmente”, vejo como um presente.

A maternidade e a paternidade nos transformam e acho que nos fazem extrair nosso melhor. Verdade que tem muita gente ruim (na nossa percepção e até socialmente falando) com filho, que não parece ter melhorado. Mas aí é uma pena para essa pessoa que está perdendo uma oportunidade e tanto de ser mais feliz e de fazer outro serzinho mais feliz também.

Bom seria se todo mundo que desejasse pudesse ter filhos, porque ser pai e mãe é maravilhoso. Intenso, verdade. Desesperador, às vezes. Mas não há como explicar esse amor que surge na gente e que vem deles pra gente e que faz a vida ser melhor.

Tem um texto do Marcos Piangers, jornalista e autor do livro Papai é pop (super recomendo), em que ele escreve o seguinte:

Eu não sei como é ter um pai. Mas eu sei como é ser um pai. E é a melhor coisa do mundo. Filhos são como um sol na sua casa. Você se sente aquecido e iluminado. Você se sente amado, sente que sua vida tem um propósito. Você começa a tentar ser uma pessoa melhor, porque sabe que tem que dar o exemplo. Você começa a se preocupar com os outros, em ser mais gentil, em ser mais cortês no trânsito. Você começa a se preocupar com ecologia, porque sabe que tem uma pessoa que você ama muito que vai passar muito tempo por aqui.


E mesmo assim a gente sente uma culpa. A gente nunca sabe se está dando comida direito, colocando na escola certa, colocando os limites direito, sendo carinhoso na hora certa. E essa culpa é bonita, porque é sinal de que estamos tentando ser melhores.

Lógico que a pessoa não precisa se tornar pai ou mãe para tentar ser melhor. Mas está aí uma boa (e grande) motivação. Talvez as pessoas que neste julgamento condenável não deveriam ter filhos são aquelas que mais precisam de uma mudança positiva como a que ter filho gera. Por um mundo com mais pessoas querendo dar o seu melhor (e ser melhor) pelo filho ou por qualquer outro motivo. <3

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2 Comments

    • Que bom que gostou! <3

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