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Tchau, chupeta!

Postado em 02/12/2016 por em Comportamento, Desenvolvimento, Saúde | Comente!

Senta que lá vem história. Post longo, já aviso, mas eu preciso explicar minha relação com este objeto tão polêmico.

Se tem algo que sempre me incomodou e que me fez sentir culpada foi ter dado chupeta para o Gabriel. Durante a gravidez, com o curso que fizemos de gestantes e com o que eu li, pensei em não dar. Mas na maternidade (e na vida) dizer “nunca” é sempre uma boa chance de cuspir pra cima e levar na cara depois.

Gabriel esperando com o bibi na mão para plantá-lo no jardim. | Crédito: Arquivo pessoal

Gabriel esperando com o bibi na mão para plantá-lo no jardim. | Crédito: Arquivo pessoal

Resisti bravamente ao primeiro mês, mesmo com o Gabriel chorando muito e dormindo muito pouco de dia (de noite, ele sempre dormiu mamando e foi mais tranquilo). Com um mês, mais ou menos, num fim de tarde depois de um dia de muito choro, acabei cedendo ao desespero e dei uma chupeta pra ele. E eis minha surpresa ao descobrir que nem todo bebê gosta de chupeta. Gabriel não gostou e não pegou. Quando tentei lhe dar, parecia um espinho que o fazia chorar mais. Desisti! E assim seguimos com ele chorando bastante e demorando muito pra dormir de dia (tinha vezes que eu o embalava por quase uma hora e normalmente chorando até ele se render ao sono).

Perto dos quatro meses, Gabriel começou a ensaiar chupar o dedo. Por recomendação de odontopediatras – que me orientaram que chupeta é melhor do que dedo para a dentição -, resolvi tentar dar novamente a dita cuja. Aproveitei uma hora que ele estava levando o dedo e dei a bichinha. Ele pegou e em pouquíssimo tempo dormiu. Pra um bebê que demorava horas pra dormir, achei incrível!

Mesmo com a culpa, resolvi ceder ao cansaço e passamos a dar a chupeta apenas para ele dormir. E sempre foi só nesta hora. Mesmo quando ele caía ou levava vacina, nunca demos. Inclusive, ele só recebia a chupeta no berço/cama e só podia sair do berço/cama quando tirava a chupeta e nos entregava Assim, ele realmente associou o bico ao sono e virou seu objeto de transição. E eu que levava horas para fazê-lo dormir, consegui com a chupeta que o processo fosse muito mais rápido e com nenhum choro.

Por causa da chupeta, antes mesmo de ter um ano, Gabriel começou a dormir “sozinho”. Fazíamos o ritual da noite (jantar, brincadeira, banho e cama), eu o amamentava, o colocávamos no berço, saíamos do quarto com ele ainda acordado e ele dormia. A partir de um ano, tirei as mamadas noturnas e ele passou a dormir a noite toda. Conforme ele foi crescendo, ele mesmo aprendeu a achar a chupeta caída no berço durante a noite e colocá-la de novo na boca, voltando a dormir sem precisarmos fazer nada. Os pais que sabem como as madrugadas com filhos podem ser cansativas podem entender como a chupeta nos permitia descansar melhor. Ainda assim, eu nunca tive uma relação de boa com o bico e a culpa sempre existia em mim.

Conto tudo isso para compartilhar como a chupeta facilitou sim a nossa vida no processo de sono dele. Facilitou o próprio desmame, como contei neste post. Mesmo assim, sempre senti culpa por ter dado o bico e minha vergonha sempre foi tanta que nunca tirei foto do Gabriel de chupeta. Acho que deve ter uma ou duas fotos dele de bico e não fui eu quem tirou.

Meu plano sempre foi tirar o bico até os dois anos, idade recomendada por odontopediatras, mas como ia coincidir com o nascimento do Bernardo, achei melhor postergar um pouco. Queria tirar antes do final do ano e estava pensando em usar o truque de entregar para o Papai Noel ou algo assim. Na verdade, eu achava que não ia ser difícil, porque o Gabriel conseguia dormir sem ela – no carro em que nunca dávamos ou no colo quando estava muito cansado. Até na soneca de dia na escola já tinha dormido sem quando esqueci de enviar a chupeta um ou dois dias.

Achamos que o adeus pra chupeta tinha que ter algum momento simbólico e tivemos a ideia de enterrar em uma horta para que virasse uma flor. | Crédito: Arquivo pessoal

Achamos que o adeus pra chupeta tinha que ter algum momento simbólico e tivemos a ideia de enterrar em uma horta para que virasse uma flor. | Crédito: Arquivo pessoal

Mas eu e meu marido precisávamos ter a disposição para lidar com ele chorando ou acordando nos primeiros dias caso isso ocorresse. E com os bailes de madrugada que o Bernardo tem nos dado, disposição está em falta por aqui. Eu também queria tirar a chupeta no ambiente da nossa casa, antes de irmos pra casa de praia dos meus sogros no final do ano. Então, há duas semanas, perguntei para o meu marido se ele estava disposto a passar trabalho caso o Gabriel não aceitasse tão bem dormir sem o bico e o processo do sono levasse bem mais tempo. Ele topou e começamos a pensar em maneiras de simbolizar o adeus para a chupeta.

Gabriel (assim como todas as crianças, imagino) tem uma super memória e eu achava importante fazer algo que pudéssemos lembrá-lo do que aconteceu quando ele perguntasse pelo bico – e não simplesmente tirar e dizer que não tinha mais e nem dar um presente em troca porque achei que ele não ia associar tão bem (quando o Bernardo nasceu, seguimos o conselho de dizer que o irmão trouxe um presente e demos um bebê e um carrinho, mas ele nem lembra o porquê ganhou). Tinha visto na internet a história de um pai que amarrou a chupeta num balão e achei legal, mas meu marido não curtiu soltar um balão por aí. Pensamos então em ir num parque e jogar no lago, mas aí meu marido disse que podia não afundar e era capaz do Gabriel querer pegar de volta – fora a poluição. Então, tivemos a ideia de enterrar o bico numa horta.

Durante a semana, fui conversando com o Gabriel dizendo que ele já estava crescendo – ele está com 2 anos e dois meses – e não precisava mais do “bibi” e que íamos dar tchau pra ele. Na primeira vez que falei isso, ele pegou a chupeta, colocou em cima da estante e disse: “tchau, bibi!” rsrs Na noite anterior ao dia do tchau, falei que era a última noite com o bibi e ele não reclamou nem nada.

Fomos então no sábado, dia 19 de novembro, no Jardim Botânico de Floripa. Falamos pra ele que íamos fazer um piquenique e que íamos dar tchau pro bibi. Ele estava super empolgado porque adora ir ao parque. Chegamos lá e fomos direto para uma horta que tem lá. Meu marido cavou um buraco na terra e disse para o Gabriel guardar o bibi lá. Eu achei que ele pudesse resistir ou algo do tipo, mas mal falamos e o Gabriel já jogou a chupeta com tudo na terra e já ia saindo. Falamos então pra ele cobrir o bibi com terra para que pudéssemos plantá-lo e aí ele viraria uma flor. Assim foi feito e ele sem perguntar nada virou as costas e foi brincar no parque.

Fizemos um piquenique, brincamos no parque e ele nem lembrou do ocorrido. Quando fomos embora, lembramos o que tinha acontecido e o Gabriel, no auge dos seus 2 anos e dois meses, “entendeu” de boa. Perguntávamos pra ele: “O que o bibi vai virar agora?” Ao que ele respondia: “uma flor”.

(Um parênteses: nossa ideia era desencavar o bico quando o Gabriel não estivesse vendo para jogarmos no lixo e não o deixarmos na horta, mas nos esquecemos. Desculpa aí, pessoal do Jardim Botânico! )

No dia do tchau, fomos ao parque e fizemos um piquenique. | Crédito: Arquivo pessoal

No dia do tchau, fomos ao parque e fizemos um piquenique. | Crédito: Arquivo pessoal

O primeiro teste pra ver como o Gabriel ia dormir sem a chupeta já foi na soneca da tarde desse sábado. Ele demorou um pouco a dormir, fez birra, chorou um pouco, mas não porque estava sem bico e sim porque não queria dormir (mesmo com sono). Ele perguntou do bibi ao deitar na cama como sempre fazia (era nesta hora que lhe dávamos) e lembramos que a gente tinha dado tchau, que o deixamos no parque e que ele viraria uma flor. Ele ficou de boa e dormiu. Quando acordou, perguntou pelo bibi e falamos a mesma coisa. Ele levantou e foi brincar.

De noite, foi mais fácil ainda. Perguntou duas vezes pelo bico (mas sempre sem choro nem nada), repetimos a história, ele lembrou, ficou quietinho e dormiu. Ao acordar, ele também perguntou uma vez e ficou de boa quando lembramos o que foi feito. E assim tem sido desde esse sábado. Foi bem mais tranquilo do que eu imaginava, ainda bem. Apesar que eu achava mesmo que ia ser tranquilo porque o Gabriel nunca foi super dependente da chupeta. Talvez pudéssemos até ter tirado antes, mas estávamos sem energia caso o processo não fosse tão simples.

Para não dizer que foi tão simples, na soneca depois do almoço na escola ele reclamou mais na primeira semana. Conversamos com as professoras para que elas o lembrassem da história quando fosse dormir – já que provavelmente pediria o bico – e elas assim o fizeram. Nos dois primeiros dias, funcionou de boa. Depois, em dois dias na primeira semana sem chupeta, elas nos relataram que ele chorou pedindo o bibi e elas perceberam que, ao lembrar da história, ele chorava mais. Então, elas o distraíram dizendo apenas que ele precisava dormir para poder descansar e ele aceitou assim e tem dormido lá também sem maiores problemas. Acho que lá ele sentiu mais do que em casa (onde ele não chora pedindo o bico), porque alguns coleguinhas ainda usam chupeta e, ao vê-los, ele também quer a dele. Mas passou também! Nesta semana elas nos disseram que ele nem pergunta mais pelo bico e não resiste mais ao sono.

Estou muito feliz por enfim ter tirado o bico. Sim, como eu disse, foi muito útil para facilitar o sono do Gabriel, mas fico aliviada por ele não depender mais da chupeta para isso. Ele tem dormido super bem de tarde aos finais de semana e de noite e nem acordou de madrugada como achei que poderia ocorrer.

Colocamos a flor rosa no quarto do Gabriel. | Crédito: Arquivo pessoal

Ah! Ontem demos uma florzinha pra ele num vaso dizendo que foi no que o bibi dele se transformou. Quando lembrávamos da história e ele falava que o bibi tinha virado uma flor, ele mesmo dizia que era uma flor rosa. Então, quando ele chegou da escola ontem, mostramos o vaso com a flor rosa no quarto dele. Confesso que achei que ele daria mais bola! rsrs Ele viu, perguntou do bibi, eu disse que o bibi tinha virado aquela flor e foi só isso. hehe Mas acho que foi um símbolo bacana.

Para o Bernardo, não pretendo dar chupeta. Também não vou usar a palavra “nunca“, mas estou mais firme neste propósito e seguindo com a livre demanda do peito, o que acho que ajuda – não fiz livre demanda no início com o Gabriel como também já contei por aqui.

Gabriel usou o modelo Mam Perfect, que tem o bico mais fino e dizia ser menos prejudicial. | Crédito: Arquivo Pessoal

Dar ou não chupeta é sempre um assunto polêmico. Há vários artigos indicando o porquê não oferecer o objeto (veja um aqui). Por outro lado, há outros indicando que a chupeta é melhor do que chupar dedo (vou dizer que eu amenizava minha culpa pensando que se não tivesse dado a chupeta, o Gabriel chuparia o dedo e seria pior). Tem o discurso dos mais antigos que sempre deram a chupeta sem problemas e o velho “eu usei e não deu nada”. Eu mesma usei até dois anos e minha mãe disse que foi super simples tirar: me ofereceu uma boneca e eu troquei o meu “abu” por ela e fim da história sem drama e sem choro.

Na vida de pais exaustos, não dá de julgar quem resolve dar a chupeta para o filho. Não sou nenhuma especialista para dar conselho sobre isso, mas eu só queria dizer para quem resolve dar chupeta para esperar a amamentação engrenar (aguarde pelo menos o primeiro mês do bebê) e para restringir o uso realmente apenas para o sono. Vejo muitas crianças no parque com bico enquanto se divertem e penso que nem seria necessário estar de bico nesta hora… Mas, enfim, depende dos pais terem o controle sobre quando a criança pode usar o bico e não deixar a criança comandar quando quer usar e ficar super dependente do objeto – o que não é saudável.

A flor rosa simboliza o fim deste capítulo. | Crédito: Arquivo pessoal

E assim foi a história da chupeta neste começo de vida do Gabriel. Texto longo na mesma proporção que foi a minha culpa durante todo esse tempo em que ele chupou bico. Por isso, acho que melhor do que para o Gabriel, dar tchau para a chupeta foi ótimo pra mim. Agora posso encerrar este capítulo e seguir para o próximo desafio (e pra próxima culpa materna rsrs) que deve ser o desfralde (mas nem estamos fazendo nada ainda, porque ele não demonstra sinais de que está pronto e não vou forçá-lo).

Quem quiser compartilhar como fez para tirar o bico do(a) pequeno(a), fique à vontade para comentar. Para quem resistiu e não deu o bico ou para quem o(a) filho(a) não pegou a chupeta, me contem como fizeram/fazem para eles dormirem, que é o maior desafio que vejo ao não ter o acessório. E para quem ainda vai tirar, um alento: pode ser mais fácil e mais tranquilo do que imaginamos. Nossos filhos nos surpreendem! <3

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