Menu+

Visita de mãe: Relato de parto normal após cesárea

Postado em 18/07/2016 por em Comportamento, Gravidez, Parto | 2 comentários

A mamãe convidada desta semana é a Débora, que já esteve por aqui antes, contando sobre as diferenças entre as suas gestações nesse post. E hoje, um ano depois do nascimento do Francisco, seu segundo filho, ela conta nesse texto emocionante sobre como conseguiu o tão sonhado parto normal, depois de ter tido uma cesárea. Inspiração para muitas de nós!

 

Parto normal após cesárea | Por Débora Hazim Schweidson

 

Dia 15/07/2015, às 07:40 da manhã, fui colocar a Helena de volta na sua cama depois de uma escapada noturna pro meu quarto e, ao sair numa posição bem desconfortável e já com um barrigão de 37 semanas (e com muito líquido amniótico, segundo a médica), foi só colocar os pés no chão que senti algo escorrer pernas abaixo. Pensei incrédula e rindo da minha própria cara que não era possível eu estar com a bexiga frouxa ao ponto de não aguentar chegar ao banheiro, mas segui as orientações e “investiguei” o tal líquido: a bolsa havia estourado. Diante da constatação, tremi dos pés à cabeça a ponto de ter dificuldade de encontrar meu próprio celular. Liguei pro marido, ele com voz de preocupação, “sério?” e eu, firme, “sério!”, e da-lhe esperar o marido voltar, ligar pra médica, pro meu pai, arrumar a mala que nem havia sido feita ainda e, peraí, um pequeno detalhe: nada de contração. Eu, que havia estudado o assunto por meses, trocado de médica no 7o mês do pré-natal e me convencido de que o ideal pra mim e pro bebê seria que ele viesse ao mundo de parto normal, estava ali, finalmente, diante dessa situação tão esperada, mas absolutamente desconhecida apesar de todo planejamento e por isso, totalmente insegura. Minhas mãos tremiam demais.
No hospital examinamos e, realmente, não havia qualquer contração, muito menos dilatação.
“Volta pra casa e vai fazer exercício, caminhar bastante”, recomendou-me a médica. Aham. Dispensei o marido pro trabalho e dormi até meio dia. Sabe lá Deus quando é que eu poderia dormir até esse horário de novo, não é? Não sou boba e a ansiedade já estava sob controle.
Volto pra maternidade às 14h pra reexaminar. Nada ainda, claro. Mas lá fui eu, finalmente, caminhar no shopping, fazer as unhas, me “preparar” pro grande momento.

– É pra quando teu bebê? Que barrigão!

E eu, rindo, respondia que “pra hoje”, já que estava com a bolsa rota e líquido amniótico vazando naquele momento. O pessoal mal acreditava, diziam aos risos que eu não deveria estar ali. Mas só me restava torcer e esperar. Segui a tarde caminhando bastante, prestando atenção no meu corpo e, de novo, sem novidades, além daquele líquido vazando aos poucos. Quase sete da noite e nada de nada de nada. Volta pra maternidade pra examinar, ouvir os batimentos, combinar com a médica como seria a indução caso não evoluísse… Bebê ótimo, eu é que não me aguentava mais de ansiedade. Até que, curiosa que sou, joguei no Google as datas de 15 e 16 de julho. Descubro que dia 16 de julho de 1228 (“olha o ano e os números, hein Nando!”) aconteceu a canonização de São Francisco de Assis. “Só vai nascer depois da meia noite, amor”. Lembrei também do pai de uma das minhas melhores amigas que também é Francisco e é de 16/7. Sou supersticiosa, não nego. Pelo menos serviu pra eu relaxar.
Voltamos pra casa pra ajeitar mais algumas coisas, depois fomos ficar um pouco com a Helena na casa da minha mãe, voltamos ao shopping já que chovia muito e eu precisava caminhar mais, subir escadas e me exercitar pra começar as contrações, tomamos um chá que estimula o metabolismo, conversamos bastante só eu e o maridão e… Nada.
Já era quase dez da noite e, já que a coisa acontecia sem muita emoção, fui terminar de arrumar o quarto do Francisco. Foi só empurrar a cômoda antiga corredor afora e senti uma fisgadinha diferente. Desconfiada, fui pro banho pra ver se passava. Literalmente do nada começaram as contrações num ritmo já acelerado e em ondas de dor absurda. Em alguns momentos só aguentei se ficasse totalmente parada embaixo d’água. Deitei de lado na cama pra cronometrarmos e notamos que as contrações já vinham ritmadas com muita, mas muita dor.
Quase meia noite voltei a maternidade jurando que, 1) não aguentaria muito tempo sentindo aquilo e, 2) naquele nível de sofrimento, achei que ja estaria com 7 cm de dilatação; o plantonista me examinou e eu estava com 3cm. Putz. Como eu me contorci naquela sala de espera… Eu tive certeza de que não aguentaria até o final. Segundo minha médica me explicou depois, quando a bolsa estoura antes ou logo nas primeiras contrações, a dor vem numa intensidade mais alta devido à quase ausência de líquido. É como se o bebê empurrasse “no seco”, palavras dela. Cheguei a perder a noção do mundo, me sentia alterada cognitivamente e mal conseguia conversar de tanta dor durante as contrações (quando elas paravam, eu ficava muito bem), mas mantive a consciência de que aquilo fazia parte do processo.
Enfim me internaram, a médica chegou em seguida, nos examinou, bebê com batimentos ótimos, eu é que não me aguentava viva. Tentei a tal da banheira pra aliviar a dor, e a única coisa que senti foi agonia daquela água pelando de quente. Notei a quantidade de recursos que minha médica e meu marido usaram pra fazer o tempo passar mais rápido e me fazer aguentar sem sentir tanto. “Uma contração de cada vez, não fica adiantando as futuras”, quando eu dizia que não ia aguentar muito tempo. E assim foi. Já bem cansada da dor e de dentro da banheira que, já disse, não me serviu pra nada, pedi analgesia. Já estava com 7 cm de dilatação. Menos mal que o trabalho de parto evoluía super rápido, a mirar pela frequência das contrações. A analgesia melhorou tanto que eu cheguei a mandar beijo pro anestesista e falar que ele era o cara. Se antes eu só gritava (e eu que sempre achei exagerado ver a mulherada gritando, mordi a língua), naquele ponto eu fiquei muito tranquila. Tanto que o marido foi descansar um pouco na sala ao lado enquanto eu batia papo com as amigas no WhatsApp. Isso já era mais de 3h da manhã, e às 4h30 dilatação total, 10 cm!
Chama o marido, vai começar o expulsivo. 1h30 de força na hora certa e do jeito certo, às 6h da manhã do dia 16/07/2015 o Francisco vinha pros meus braços. Nunca vou esquecer da sensação do corpo dele, bem quentinho e todo grudento nas minhas mãos, sendo acolhido no meu corpo, trocando calor e grudado em mim. E que não tive o menor nojo, apesar de sempre ter achado esquisito aquilo tudo. Na maneira como eu analisei e peguei os dedinhos dele pra ver a quem tinha puxado, na forma que olhei bem de perto os olhos dele, no sentimento de pertencimento àquela situação e aquele bebê a mim. Na sensação tão instintiva da maternidade, como se eu fosse (e sou, afinal) um bicho que pariu.
Tudo isso pra dizer que o teu nascimento, Francisco, foi um marco tão significativo pra mim que me renasceu em muitas maneiras. Eu quis relatar por que apesar de muito reservada, quem me conhece sabe, eu não queria esquecer os detalhes e penso que a internet serve bem pra eternizar esse sentimento transcrito e, futuramente, mostrar ao pequeno destinatário dessa mensagem (e à sua irmã, que me abriu as portas desse sentimento tão único que é a maternidade). Cada aniversário de um filho é muito mais comemorado pelos pais (e potencializado pela mãe, se me permitem), do que parece. Hoje o Francisco faz 1 ano e, meu filho, que presente completo você veio. Embrulhado num amor tão carinhoso de pai e mãe, numa experiência transcendental, vieste me mostrar que é possível multiplicar aquele sentimento já tão imenso que sentimos pela tua irmãzinha e que não pensávamos possível equivaler. Veio em formato de lição de vida, de superação, de aprendizado pra todos nós, que hoje completa não só seu primeiro ano de vida mas o começo de uma nova interpretação das nossas vidas.
Obrigada por nos ensinar tanto, por ser esse bebê tão lindo, carinhoso, risonho, cheio de renovações pras nossas famílias, resignificando o amor pra tanta gente. Se eu puder pedir mais umas coisinhas, seria uma saúde de leão pra ti e que sejas muito, mas muito feliz na tua vida. E que eu possa te ajudar a descobrir o mundo, em retribuição a essa nova capacidade de me redescobrir e viver intensamente que vc me apresentou.

Tags: , , , , ,

2 Comments

  1. Ainnn que lindo!! Amo ler esses relatos de parto!! Parabéns! Que Deus abençoe sua família!!

Deixe um comentário para Rafaela Louredo Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *