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Parto normal ou cesárea: uma escolha consciente

Postado em 25/07/2015 por em Gravidez, Parto | Comente!

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Crédito: Reprodução da internet

Ninguém é menos mãe porque teve filho de cesárea. Já que o assunto é parto, quero deixar isso claro desde o começo para não gerar polêmica desnecessária. Também acho que cada pessoa escolhe o parto que quer e ninguém tem nada a ver com isso (ultimamente, tem muito patrulhamento nesse sentido e esse não é meu objetivo). Mas aí está a questão: que seja uma escolha da mulher com o apoio do seu parceiro, quando for o caso, e não uma escolha do médico por comodidade e se aproveitando algumas vezes da “ignorância” (desconhecimento) da gestante. Nem sempre é questão de escolha, mas que a mulher esteja consciente do por que teve que ser daquele jeito. Para isso, é preciso sim se informar e essa é uma responsabilidade da gestante.

Acho bem honesto quem prefere ter cesárea eletiva (porque não quer sentir dor ou qualquer outro motivo) e acho ainda mais honesto o médico que assume que só faz cesárea. Tenho certeza que seu consultório está cheio de pacientes que querem um parto assim e tudo bem se ambas as partes estiverem de acordo e cientes disso desde o começo.

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Crédito: Montet Nicole

No entanto, acho frágil aquela resposta quando se pergunta se a grávida quer ter parto normal ou cesárea e ela responde: “Quero ter de parto normal, mas se não der não tenho problemas em fazer cesárea”. É óbvio! Acho que todo mundo se precisar faz uma cesárea para não colocar em risco a vida do bebê e a sua própria. Mas eu suspeito (sem nenhuma pesquisa e método estatístico) que muita gente que dá essa resposta acaba fazendo cesárea desnecessária – e creio que muitas vezes induzida pelo médico que dá uma daquelas justificativas que nem sempre são verdadeiras (vejam aqui um texto muito legal sobre reais indicações de cesáreas e as desculpas dadas e que não deveriam ser aceitas por quem quer ter parto normal).

Eu troquei de médico bem no início da gestação, porque percebi que a primeira médica que eu fui ia me levar a fazer cesárea (mesmo sem real indicação, só pelo papo dela quando falei que queria parto normal e por constatar que todo mundo que tinha sido paciente dela e que eu ouvia falar tinha feito cesárea). Eu sabia que, na hora do parto, se o médico me indicasse uma cesárea, eu não iria nem questionar. Naquela hora, eu ia confiar e aceitar a sua indicação, afinal, esse profissional estudou pra isso e eu o escolhi por isso. Mas eu queria um médico que eu realmente confiasse que se ele indicasse uma cesárea era porque realmente precisava – e não apoiado em argumentos questionáveis.

O obstetra que escolhi me ganhou assim. Na primeira consulta, falei que queria parto normal e ele me disse que não tinha como garantir isso, mas que, na maioria dos casos, isso era possível. Ele me garantia, no entanto, lealdade – ou seja, só iria partir pra uma cesárea se realmente fosse necessário. Esse meu médico – Dr. Fernando Pupin – já é conhecido por seguir essa linha de parto humanizado, então fiquei bem tranquila de que meu desejo ia ser respeitado. E assim foi como já contei no post com o relato do meu parto.

Vale dizer que parto normal também não basta querer, às vezes pode não dar (novamente, informem-se sobre os reais motivos pra cesárea). E a mulher não tem que ficar frustrada caso não dê. As meninas do grupo Hanami, que nos acompanharam no parto, tem um lema ótimo: Bebê saudável no colo. Claro, se for por parto normal já é comprovado que é melhor para criança e para a mãe (quando não há real indicação para a cesárea), mas se não der o importante é que mãe e bebê estejam bem.

Achei legal que, durante o curso de gestante que fizemos com as meninas do Hanami, que são super em prol do parto normal, elas também nos prepararam caso não desse de ter nosso filho dessa forma. Lembro que outra colega de curso disse que não entendia por que, quando perguntadas sobre o parto, as mulheres respondiam: “Vou tentar o parto normal!”. Ela disse que não iria tentar, que iria ter e ponto. E aí as meninas do Hanami explicaram que se fala tentar, pois nem sempre o parto normal é possível e a mulher precisa estar preparada para isso.

Mas, antes de partir pra cesárea, caso não se entre em trabalho de parto, é possível induzir o parto (conversem com o seu médico para verificar a viabilidade dessa opção). É tudo questão de se informar se esse realmente for seu desejo. Mas se estiver na dúvida se seu médico está sendo tendencioso, peça outra opinião e pesquise na internet em fontes confiáveis.

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Crédito: Carol Dias Fotografia

Meu discurso está mais na defesa de quem quer ter parto normal, porque hoje é mais difícil pra quem quer isso do que pra quem quer fazer uma cesárea. Meu marido sempre fala: não tenho nada contra quem escolhe fazer cesárea, só não gosto de quem usa uma desculpa esfarrapada para justificar a sua escolha. Então se você realmente quer parto normal, lute por isso e a sua arma é a informação. E se você fez cesárea porque quis assim, assuma sua escolha sem se apoiar nas falsas indicações.

Outra dica: O Ministério da Saúde e Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) publicaram em janeiro uma resolução que estabelece normas para estímulo do parto normal e a consequente redução de cesarianas desnecessárias na saúde suplementar (veja mais detalhes sobre essa resolução aqui). As novas regras, que passaram a valer a partir de julho, ampliam o acesso à informação pelas consumidoras de planos de saúde, que podem solicitar às operadoras os percentuais de cirurgias cesáreas e de partos normais por estabelecimento de saúde e por médico. As informações devem estar disponíveis no prazo máximo de 15 dias, contados a partir da data de solicitação.

Eu fiz o pedido para meu plano de saúde para ver se eles já tinham esses dados e recebi o número de partos normais e cesáreas feitos em clínicas de Florianópolis e pelos médicos nos anos de 2013 e 2014. O índice considera apenas os atendimentos feitos por esse plano. Inclusive, achei um pouco confuso, já que há médicos listados que sei que o chamado do parto é particular e aí não entendi se o plano está contabilizando partos quando apenas a internação é feita pelo convênio. Já encaminhei essa dúvida pela Ouvidoria do convênio, mas não obtive retorno ainda.

De toda forma, já é uma informação a mais que os planos são obrigados a fornecer. Portanto, se você optar por ter seu bebê em maternidade ou hospital e observar que a taxa de cesária é alta, por exemplo, já dá de perceber que as chances de você ter uma cesárea nesse local é maior, né? O mesmo vale pelo histórico do médico. E agora essa informação é um direito.

Em uma de nossas colunas #VisitadeMãe, a Débora deu um relato sobre a decisão de querer ter o segundo filho de parto normal depois de ter feito uma cesariana (Ela conseguiu! ;)). Tudo isso baseado em informação que ela buscou durante sua segunda gestação.

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Crédito: Monet Nicole

Não quero de maneira alguma menosprezar quem opta por uma cesárea eletiva – cada mulher com a escolha que lhe deixa mais confortável e feliz. Só quero incentivar as mulheres a se empoderarem (virou moda essa palavra quando a temática é parto humanizado, mas ela tem realmente essa força) e buscarem se informar para que seu desejo seja respeitado – seja esse um parto natural, normal ou uma cesariana.

O parto é um momento seu, seu corpo, sua decisão. A opinião do médico deve ser respeitada, mas não se deixe levar por falsas indicações. Esclareça suas dúvidas durante o pré-natal para ter o plano A, B e C. Na hora, você não vai ter cabeça pra isso e a probabilidade de você seguir a orientação do médico (mesmo se baseada em uma daquelas desculpas esfarrapadas) é grande.

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Fonte: Livre Maternagem

Pode ser que não seja o parto dos sonhos (como aconteceu comigo), mas que seja um parto feito com honestidade e consciência. Então, busque um médico honesto nesse sentido e seja honesta com você mesma sobre a sua preferência.

Vejo que há mulheres que preferem acreditar que fizeram uma cesárea realmente necessária – mesmo quando a explicação médica entra na lista de falsas indicações tão disponível por aí-, do que procurar entender o que ocorreu e evitar que aconteça de novo se essa for realmente a sua vontade. Quem prefere agir assim para não se frustrar, é uma escolha. Mas as informações estão aí para que essa escolha seja muito consciente.

No final, eu só espero mesmo que cada mulher fique feliz com o seu parto. Caso não fique, lute por um caminho diferente numa próxima vez. E, mais do que tudo, eu desejo que as discussões de parto normal X cesárea não sigam pelo caminho da ignorância e de xingamentos como tem ocorrido, principalmente, na internet. Parir um filho é resultado de um ato de amor, o trabalho de parto é um ato de amor e o bebê no colo é o maior amor que consigo imaginar. Por um mundo com mais amor, acima de tudo! Afinal, se seu filho nasceu de parto normal ou de cesárea, não faz diferença em termos de amor! É nesse mundo que ele vai viver e tenho certeza de que ele é muito amado independentemente da forma como ele chegou aqui! <3

 

Observação 1: Sou super fã do meu obstetra como já disse no outro post com meu relato de parto! Vejam aqui uma entrevista que ele deu falando sobre parto normal. Vale a pena assistir a todo o vídeo – em que ele comenta também quando a cesárea é indicada-, mas quero destacar as dicas que ele dá ao final para as gestantes: acredite na sua capacidade de gerar e ter esse bebê, confie nas pessoas que você escolheu para cuidar desse bebê e tudo dá certo, fique tranquila. <3

 

Observação 2: Há muitos lindos textos enaltecendo o parto normal e quem passou por essa experiência, então achei muito legal esse outro texto que fala sobre três verdades relativas às mães de cesárea: elas são corajosas, fortes e belas.

 

Observação 3: Ontem, quando eu revisava esse post, vários conhecidos compartilharam uma notícia tendenciosa sobre uma professora da área da saúde que morreu após tentar (segundo a matéria) parto domiciliar. Mesmo detestando entrar em conflitos, acabei “discutindo”pelo Facebook e compartilhando um outro lado do fato. Eu não faria um parto domiciliar por me sentir mais segura em uma maternidade, mas pesquisas já mostram que o parto domiciliar bem assistido pode ser tão seguro quanto um parto hospitalar. Assim como a questão de ter parto normal ou cesária no hospital é uma escolha, ter parto em casa também é. Irresponsabilidade e fatalidade existem, infelizmente, em todos os tipos de parto. Não dá de pegar um triste episódio para condenar o parto domiciliar. É mais uma opção de escolha que a mulher tem e deve ser respeitada – e não julgada. Parto domiciliar e parto normal não são modismos. O que está na moda é essa discussão sobre tipo de parto, o que acho muito bom para que possamos nos informar e escolher. Mais uma vez: cada mulher deve poder fazer sua escolha sem julgamentos, mas ciente dos riscos envolvidos em sua decisão. Que tenhamos menos julgamento e mais informação – seja para escolher seu tipo de parto ou para compartilhar informações desse tipo!

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